quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Teu poema

Quero cuspir um poema feio

uns versos sem forma, sem cheiro

que me deixe com gosto de sangue

recitado fugindo entre os dentes

sem rima, sem graça, sem cor

sem falar de paixão recolhida

ou amor puro correspondido.

Qualquer coisa que cause um assombro,

seja um tapa, um tiro, um responso

desse pejo que tenho da vida

que se segue em padrão programado

sem sabor, sem frescor, novidade

mergulhada numa regra fácil

sem pensar, sem amar, muito pálida

suja, doente, hipócrita, triste.

Quero fazer um poema intragável

sifilítico, anêmico, mediocre

com uns três clichês repetidos

emorragicamente nocivo

um poema de métrica torta

pixado no muro do hospício

delével, efêmero, perecível

O qual só comparo com a vida

que é inerte, indolente, insolúvel

escrava em dodecassílabos

sem saber declamar um soneto.

Vida que páera aérea sobre o limbo

demente,vaga, burra, apática

de qualquer motivo alienado

sem saber do amor nem amar.

Quero cuspir um poema feio

raso, magro, careca, surdo

burro, rezando um rosário banguela...

Quero fazer um poema absurdo,

um poema igual a essa tua vidinha.

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