Quero cuspir um poema feio
uns versos sem forma, sem cheiro
que me deixe com gosto de sangue
recitado fugindo entre os dentes
sem rima, sem graça, sem cor
sem falar de paixão recolhida
ou amor puro correspondido.
Qualquer coisa que cause um assombro,
seja um tapa, um tiro, um responso
desse pejo que tenho da vida
que se segue em padrão programado
sem sabor, sem frescor, novidade
mergulhada numa regra fácil
sem pensar, sem amar, muito pálida
suja, doente, hipócrita, triste.
Quero fazer um poema intragável
sifilítico, anêmico, mediocre
com uns três clichês repetidos
emorragicamente nocivo
um poema de métrica torta
pixado no muro do hospício
delével, efêmero, perecível
O qual só comparo com a vida
que é inerte, indolente, insolúvel
escrava em dodecassílabos
sem saber declamar um soneto.
Vida que páera aérea sobre o limbo
demente,vaga, burra, apática
de qualquer motivo alienado
sem saber do amor nem amar.
Quero cuspir um poema feio
raso, magro, careca, surdo
burro, rezando um rosário banguela...
Quero fazer um poema absurdo,
um poema igual a essa tua vidinha.
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