segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O corpo.




Meu corpo é um templo pagão onde mora um paraíso
com curvas secretas e setas que indicam alguns riscos
que em luxuriosa meiguice exibe seu lado narciso
e numa preguiça ofídia tem um lânguido sorriso

O cobre um veludo escuro como o mistério noturno
o ventre contorce agudo em seus espasmos soturnos
as mãos procuram as texturas mais proibidas do outro
e o colo procura o encaixe no feixe de um tímido gozo

O sangue é rubro e quente como o sêmem do vulcão
e desemboca em veias que o leva ao coração
que pulsa involuntário dominado por paixão
e sempre mente se responde – Me amas? - Não.

Não vou deixar você me ver chorar




Hoje eu não vou chorar
eu não vou lembrar da minha dor
quero mais cair no samba
fazer o meu suor virar vapor

eu não vou nem pensar
em como é ruim ficar sozinho
pode ser que até sem mágoa
um dia você vem dançar comigo

Vou me embriagar de sonho sem pudor
vou cantar uma canção em tom maior
e se meu corpo inteiro reclamar por ti
não vou deixar você me ver chorar

o azedo e do doce do sumo da acerola
lembra o gosto do teu beijo
a simples lembrança discreta do teu cheiro
faz despertar meu desejo
minhas mãos se completam no teu corpo
minha boca sente falta do teu gosto
e meu coração insiste em reclamar,
mas não vou deixar você me ver chorar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Inflexo

O meu templo é o mundo,

minha oração é a poesia, 

meu espírito é minha voz,

minha alma é minha memória,

meu milagre é a vida, 

minha missão é a arte, 

o meu Deus é o amor 

e minha religião sou eu mesmo.

Funil do ego.

Eu não quero ser exemplo nem guiar ninguém
     Não preciso ser o sal da minha geração
         Eu nunca tive vocação pra eunuco
              subtraia essa frustração inata
               meu sonho inconseqüente é
                  poder ser somente isso
                      até o fim de tudo
                           sem leveza
                             ou peso.
                               só eu
                                 só.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Não.

Não importa a via, eu continuo caminhando
Ando por saber que ninguém vai me socorrer
Correr à minha sorte será minha armadura
Dura como a morte da rigidez do ferro
Erro pois não sei qual é o quê de meu intento
Tento não lembrar de uma prisão premeditada
Ditada pra fazer com o asco em mim transborde
e borde em trapos velhos um intransigente: Não.

domingo, 7 de novembro de 2010

Vai me amando.

Vai me amando devagar, sem obrigação, sem peso
sem saber se é amar essa cócega no peito

Vai me amando sem pensar e sem ter que explicar
como quem gasta seu tempo se arriscando calcular
o tempo que a lua passa pra minguar

Vai me amando sem saber ou quem sabe sem querer
sem ter que resolver o que vai ou não vai ser

Vai me amando por amar, sem sofrer ou se importar
em mudar, em chorar, pensar no que falar

Vai me amando irresposável mesmo, inconsequente
se entregando sem ter nada em mente
me sorvendo num beijo dolente, demente.

Vai me amando sem pedir licença, sem desculpas
sem nove horas, meia volta, etiquetas

Vai me amando simples, levemente e absurdo
Como uma aquarela cega ou um canto surdo

Vai me amando assim amada, amando mais
e amando amar o amor sem nem lembrar dos ais

Vai me a amando e ponto. Sem precisar de rima
de motivo, de argumento ou prova.

Vai me amando todo dia, um dia mais, um outro menos
talvez ser ter razão,  vai me amando feito o vento
Aleatóriamente amando, vai me amando de repente
desse jeito algum dia vais querer me amar pra sempre.