quarta-feira, 16 de junho de 2010

Água


Todo lixo, lama, lágrima, lamúria

corre para o mar

Toda água, chuva, angústia, enxurrada

corre para o mar

Todo salgado e doce, feio e bonito

corre para o mar

Tudo que é infame ou justo, novo ou podre

corre para o mar

O rio, o mangue, a poça, o esgoto

corre para mar

A flor, o ouro, o pejo, a bosta

Nada fica... nada.

Nada finca.

O mar engole tudo e tudo nada, tudo há de nadar.

O ócio, ópio odioso...

o que se esconde, o que não.

O medo, o frio, a saudade

tudo afoga, bóia, molha, submerge

tudo que se toca e que se sente

Tudo corre para o mar e correrá

até o dia que deixar de ser

e tudo ser o oco de uma nota soando

em baixo d'água...

e tudo vai ser mar

e o mar tudo.