quarta-feira, 9 de abril de 2008

Pérola


Pérola me fitou de cima a baixo, eu confesso que queria saber qual era o seu juízo. Embora estivesse convicto de que daquela vez pouco me importaria, a prática era muito mais difícil que a teoria. Não foi difícil gravá-la em seus mínimos detalhes. Até seus defeitos pareciam ser colocados ali como que pelas mãos de um escultor experiente. Sem muita demora ela se jogou no Sofá da sala de visitas, tomou o controle da televisão e mudou de canal me olhando com aqueles luzeiros amarelos. Senti-me uma mariposa bêbada. Em pouco tempo não lhe havia mais surpresa que arrebatasse. Plantou uma flor no meu terraço cinzento, jogou fora minha coleção de jogos de tabuleiro, afinou as cordas do meu cavaquinho, dançou, despenteou-se, enrubesceu-me.

- sorvete de abacaxi!
- como?
- lógico.
- não falo como de comer não.
- quero ver teu nariz gelado.

Desatava no riso. Pérola parecia propositalmente espontânea, era cruelmente leve, fazia-se necessária. Pensei em conspiração, imaginei coisas, estudei teses, na capelinha tinha novena eu não quis passar perto. Quem sabe
Um dia ela vai embora de casa... ou somente fique na sala de visitas. Espero que não se dê conta de que esta com as chaves de todos os cômodos nesse instante.

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